Como será a segunda vinda de Jesus?
Há
muito sendo dito em nossos dias sobre a “volta de Jesus” e o “Apocalipse” (expressão
usada como sinônimo do fim do mundo). Até um não cristão já se deparou com algumas
obras literárias, ou filmes que trabalham essa temática, tais como “Deixados Para
Trás”, “O Apocalipse” como Nicolas Cage, “Armagedon”, entre outros. Contudo,
hoje quero de maneira simples falar sobre o retorno do filho, sem o peso dessas
interpretações tendenciosas sobre o fim. O objetivo é ser claro e simples
quanto ao retorno de Cristo, para que, até aqueles que nunca leram ou ouviram nada
sobre este tema, consigam compreendê-lo.
Antes de analisarmos alguns textos bíblicos
para compreender como será a vinda de Jesus Cristo, é preciso fazermos a distinção
entre duas posições em relação a segunda vinda de Jesus. A primeira posição,
chamada pré-milenismo, é bastante conhecida e defendida atualmente pelos
evangélicos. Tal posição, afirma que Jesus não voltará apenas mais uma vez, mas
haverá pelo menos “três retornos” de Cristo. O nome desta posição, por sua vez,
é uma referência ao “milênio” de Apocalipse 20, e conforme sua designação, seus adeptos defendem
que estamos vivendo um período anterior ao milênio (pré milênio). Este milênio
descrito em Apocalipse, por outro lado, refere-se ao reino de Jesus Cristo, e, assim, para tal posição Jesus ainda não está entronizado, ou coroado, mas
será coroado, após um arrebatamento secreto e um período de sete anos de
tribulação. O arrebatamento secreto é, portanto, o primeiro retorno de Jesus
que acontece apenas para buscar a igreja fiel; o segundo retorno acontecerá na
instauração de um reino milenar; e, ao final desse período de mil anos, Jesus
voltará mais uma vez para o juízo final. Logicamente essa explicação é uma síntese
desta posição que é bem mais ampla e complexa, e que tem várias vertentes, como
o pré-milenismo histórico, pré-milenismo dispensacionalista etc.
A tradição cristã reformada, por outro lado,
defende uma posição chamada de “amilenista”, ou em algumas literaturas, “milenista”,
pois defende já vivemos o milênio (descrito em Apocalipse 20), e que este não é
literal, mas se refere ao reino espiritual de Cristo, desde sua ascensão (após
a ressureição) até o seu retorno. Esta posição assim, defende que Jesus voltará
apenas mais uma vez, e em seu retorno acontecerá o juízo final, e a restauração
da criação que foi amaldiçoada pelo pecado.
Uma implicação
da crença amilenista, está noção que já estamos vivendo os
“últimos dias”, entendendo que “últimos dias” é uma expressão que designa o
período entre a primeira e a segunda vinda de Jesus Cristo. Uma evidência bíblica
para isso podemos encontrar em 2 Timóteo 3.1-5, onde Paulo descreve como serão
os homens dos “últimos dias”, e então ordena a Timóteo, seu discípulo, a fugir
destes homens. O que fica evidente neste texto é a convicção do apóstolo que eles
já viviam os últimos dias.
Outra
implicação muito importante da crença amilenista, está no fato que Jesus já reina
no céu, como ele mesmo afirma em Mateus 28.18, quando diz: “toda a
autoridade me foi dada no céu a na terra”. O que também é evidenciado em
vários textos da Bíblia, os quais afirmam que Jesus está assentado no trono de
Deus a destra do Pai (cf. Mc 16.19; At 2.33, 7.56; Hb 8.9, 10.12, 12.2; 1 Pe
3.22). Portanto diferente do pré-milenismo que crê que Jesus ainda será coroado,
a fé reformada crê que Jesus já está entronizado, e essa é a garantia que o
evangelho pode ser anunciado a todas as nações (cf. Mt 28.18-20). Sendo assim, os últimos dias se
iniciaram após a ressurreição e ascensão de Cristo, e se finalizarão com a vinda
de Jesus (segunda e última).
Compreendidas
as diferenças dessas duas posições, precisamos nos voltar para o texto bíblico para
compreendermos o que de fato a bíblia ensina sobre a vinda de Jesus. Um dos
textos mais claros sobre este tema se encontra em 1 Tessalonicenses 4, e vamos
nesta análise compará-lo com os textos de Mateus 24 a 25, e 1 Coríntios 15. Então,
como será a segunda vinda de Jesus?
1.
Jesus descerá do céus ao som da trombeta
sobre as nuvens: Paulo diz em 1 Ts 4.16 que, “dada a sua palavra de
ordem, ouvida a voz do arcanjo, e ressoada
a trombeta de Deus, [Jesus]
descerá do céu, igualmente Jesus diz em Mt 24.30 e 31 que, “aparecerá
no céu o sinal do Filho do Homem […] vindo
sobre as nuvens do céu […] com
grande clangor de trombeta”.
Em ambos os textos é observado que a vinda de Jesus será totalmente visível e
não secreta, todos perceberão. A ênfase da trombeta está em algo que não tem
como não ser notado. Da mesma forma, em 1 Co 15.52, Paulo fala sobre o “ressoar da última trombeta”, que
novamente aponta para uma aparição de Jesus que “todo olho verá” (Ap 1.7,
cf. Mt 24.30; Mc 13.26; Lc 21.27; Jo 19.34-37).
2. Os mortos em
Cristo ressuscitarão e os vivos serão transformados, e todos serão arrebatados
pelos anjos, para as nuvens: Em 1 Co 15, Paulo está defendendo a
doutrina da ressurreição, para aqueles que não acreditavam nela, e nos vs. 51-53
ele explica que na vinda de Jesus os mortos em Cristo ressuscitarão com corpos
incorruptíveis (imortais), e “nós” os que ficarmos até sua vinda teremos nosso
corpo também transformado em imortal. A ordem aqui é importante, pois segundo
Paulo em 1 Ts 4.15, os que estiverem vivos “de modo algum precederão os que
dormem [os que já estão mortos]”. Portanto antes do arrebatamento haverá a ressurreição conforme os vs. 16 e 17: “e os mortos
em Cristo ressuscitarão primeiro; depois, nós, os vivos, os que ficarmos, seremos
arrebatados juntamente com eles, entre nuvens, para o encontro do Senhor
nos ares, e, assim, estaremos para sempre com o Senhor”. Nestes textos não há evidência nenhuma de um arrebatamento secreto, e muito
menos de um desaparecimento de pessoas, ao contrário, o que temos é um
ajuntamento de pessoas, conforme Mt 24.31: “E ele enviará os
seus anjos, com grande clangor de trombeta, os quais reunirão os seus
escolhidos, dos quatro ventos, de uma a outra extremidade dos céus”.
3.
Haverá um grande julgamento, o juízo final: Uma pergunta
relevante está no porquê do arrebatamento, e a resposta é dada por Paulo em 1
Ts 5.9: “porque Deus não nos destinou para a ira, mas para alcançar a
salvação mediante nosso Senhor Jesus Cristo”. Isto é, Deus tira sua
igreja da terra por um breve momento para derramar sobre este mundo seu juízo,
sua condenação. O que é importante destacar é que o dia da vinda do Senhor é
também o dia do juízo final, onde todos os pecados serão julgados (cf. Hb 3.13).
Jesus também fala sobre este grande julgamento em Mateus 25.31-46, onde ele
separa as ovelhas dos bodes, concedendo às ovelhas a herança da vida eterna, e
aos bodes a condenação eterna por seus pecados (cf. Ap 21.7-8). E os que foram
condenados, assim foram porque não creram no nome do Senhor Jesus (cf. João 3.18).
4.
Por fim, a criação será restaurada e para
sempre estaremos com o Senhor: A cena da criação restaurada pode ser
vista em Apocalipse 21, onde é dito que o Senhor fará “novos céus e nova
terra” (v.1 e 5), e que havendo passado as primeiras coisas, não haverá mais dor, sofrimento, luto, pranto
e nem a morte mais existirá (v.4). A razão dessa paz vindoura está na presença
eterna e plena de Deus com a humanidade, no v.3 lemos que “Deus habitará com
os homens. Eles serão povos de Deus, e Deus mesmo estará com eles”. E é
sobre isso que Paulo disse quando falou que “para sempre estaremos com o
Senhor” (1 Ts 4.18).
Apesar
da simplicidade da crença reformada sobre o fim, tal não deixa de crer que
antes da vinda de Jesus haverá
sinais, e que estes ficarão cada vez mais intensos (como as dores de parto), à
medida que se aproxima do fim. Os sinais são os seguintes: falsos profetas e
falsos cristos (Mt 24.5, 11, 23-25); guerras, terremotos e cataclismas naturais
(Mt 24.6-8, 29); a perseguição aos cristãos (Mt 24.9, Mc 13.9-13); a apostasia
mundial (Mt 24.10-13, 2 Ts 2.3); o anticristo (2 Ts 2.1-12); e, a evangelização
mundial (Mt 24.14).
Diante
destes sinais, porém, não podemos ficar amedrontados, ou aterrorizados. Como Paulo
ensina em 1 Ts 4.13-14, os cristãos não podem ser como aqueles que não
tem esperança. Isto é, não podem viverem tristemente em relação a morte, o
pós-morte, e o fim do mundo, como aqueles que não creem em Jesus. Isso porque,
nós temos a esperança da vida eterna em Cristo Jesus (cf. Jo 11.25; 1 Co
1.19-20; e, Fp 1.21, 23). E por fim, de forma prática, devemos esperar a segunda vinda de Jesus
sendo (1) vigilantes e sóbrios (1 Ts 5.1-6); (2) nos revestindo com a fé, o
amor e a esperança (1 Ts 5.8-9); (3) em união com Cristo e se relacionando com
ele (1 Ts 5.10); e, (4) consolando e edificando
uns aos outros através da vivência como igreja (1 Ts 4.18 e 5.11).