O Milagre do Verdadeiro Amor - Cantares 8.6-7

“Ponha-me como selo sobre o seu coração, como selo sobre o seu braço, porque o amor é tão forte como a morte, e o ciúme é tão duro como a sepultura. As suas chamas são chamas de fogo, são labaredas enormes. As muitas águas não poderiam apagar o amor, nem os rios, afogá-lo. Ainda que alguém oferecesse todos os bens da sua casa para comprar o amor, receberia em troca apenas desprezo.” (Cantares 8.6-7)


Randy Pope, idealizador do Discipulado Missional Life on Life, fala no currículo “A Jornada”, sobre dois mitos do casamento. O primeiro: “os bons casamentos se desenvolvem naturalmente”. Contudo, conforme Randy Pope, “deixado à própria sorte, um casamento menos que desejável se desenvolverá, e apenas metade dos casamentos sobreviverá ‘até que a morte os separe’”. Um dos motivos pelos quais bons casamentos nem sempre se desenvolvem naturalmente é a natureza pecaminosa do ser humano (Romanos 3.23), que gera conflitos entre as pessoas (Gênesis 3.16) e as afasta de Deus (Isaías 53.4-6). Quando duas pessoas imperfeitas se unem em matrimônio, desafios certamente surgirão. Até mesmo seguidores fiéis de Cristo podem enfrentar dificuldades e ter relacionamentos conjugais problemáticos.

O segundo mito: “o parceiro certo suprirá as minhas necessidades mais profundas”. Segundo Randy Pope, cada pessoa carrega consigo necessidades emocionais profundas, e, em diferentes graus, todos temem a solidão, a insegurança, a monotonia, a decepção, o abandono e até o sofrimento. É comum acreditar que encontrar o par ideal resolverá essas carências. No entanto, nenhuma pessoa limitada pode preencher por completo esses anseios interiores. Trocar de relacionamento repetidas vezes não traz a realização esperada. Só Cristo pode atender plenamente aos desejos mais profundos do coração humano e dar verdadeira satisfação à alma. Ele diz:

“Você nasceu neste mundo buscando algo que o faria se sentir completo. Sem saber o que era esse algo, você buscou glórias falsas nos montes de lixo da vida, migrando de uma situação crítica a outra, de um brinquedo a outro, de um relacionamento a outro, buscando satisfação verdadeira. Mas sua satisfação nunca durou até você encontrar a Cristo.” (Randy Pope)

Entender isso é fundamental para se ter a perspectiva correta no casamento, como também para que o casamento seja revestido do verdadeiro amor. No texto de Cantares 8.6-7, há uma expressão poética desse genuíno amor conjugal, que não vem do ser humano, mas é uma graça divina concedida aos homens pela graça. Justamente, por causa do pecado, o verdadeiro amor é um milagre, pois suas características são distintas daquilo que nossa cultura ou sociedade chama de amor.

Antes de vermos essas características, só alguns comentários sobre o livro de Cantares. O título hebraico desse livro pode ser traduzido como “o mais excelente dos cânticos”, “grande cântico”, “cântico dos cânticos”. Há várias interpretações diferentes desse livro, como a interpretação alegórica (Orígenes), que afirma que o noivo e a noiva seriam Cristo e a igreja. Essa não é a forma que interpretamos. Por outro lado, no livro vemos uma jovem morena, Sulamita, que canta seu romance com seu noivo. Ambos cantam seu amor um ao outro, mostrando a beleza do genuíno amor conjugal. Há uma teoria, defendida por Heinrich Ewald (1816), que vê três personagens no drama: a Sulamita, o Amado e o Rei. Essa teoria é interessante e conta com evidências no próprio livro de Cantares como veremos no último ponto dessa meditação.

Compreendida essas coisas, nesse texto vemos o milagre do verdadeiro amor, primeiro na fidelidade radical à Aliança (v.6a), segundo no vínculo intenso e indestrutível (v.6b-7a) e, na dádiva do amor imerecido (v.7b). Segue cada característica com mais detalhes:


1.       O Milagre do verdadeiro amor na fidelidade radical à Aliança! – v.6a

“Ponha-me como selo sobre o seu coração, como selo sobre o seu braço, porque o amor é tão forte como a morte, e o ciúme é tão duro como a sepultura.”

A expressão "selo" aponta para um compromisso íntimo e inviolável (cf. Jeremias 22.24). O texto continua dizendo que o amor é tão forte quanto a morte. Isso é, é inquebrável, e permanece firme até a morte! Esse amor é radicalmente fiel, e isso fica evidente pela afirmação que “o ciúme é tão duro como a sepultura”. O termo ciúme aqui não deve ser entendido como a atitude pecaminosa denunciada em 1 Coríntios 13.4, quando é dito que o amor não arde em ciúmes. Mas, no mesmo sentido que Tiago 4.5, onde é afirmado que o Espírito Santo tem ciúme de nós. O ponto é simples, há uma exclusividade plena entre marido e mulher, assim como há entre a Igreja e o Senhor, nosso Deus.

Sobre essa exclusividade entre Marido e Mulher, Provérbios 5.15-19 diz:  Beba a água da sua própria cisterna e das correntes do seu poço. Por que você derramaria as suas fontes lá fora, e os seus ribeiros de água pelas praças? Que sejam para você somente e não para os estranhos que estão com você. Seja bendito o seu manancial, e alegre-se com a mulher da sua mocidade, corça amorosa e gazela graciosa. Que os seios dela saciem você em todo o tempo; embriague-se sempre com as suas carícias.”

A última parte da citação de provérbios, nos leva para o segundo ponto de nossa meditação em Cantares 8.6-7:

 

2.     O Milagre do verdadeiro amor no vínculo intenso e indestrutível! – v.6b-7a

“As suas chamas são chamas de fogo, são labaredas enormes. As muitas águas não poderiam apagar o amor, nem os rios, afogá-lo.”

O versículo 6 encerra afirmando que as chamas do amor são labaredas enormes. Isso demonstra a intensidade desse amor. Ele não é mero sentimento, mas também envolve sentimento e paixão. O verdadeiro amor conjugal vincula marido e mulher de forma intensa, de modo a tornarem uma só carne (Gênesis 2.24).

Esse amor intenso, por sua vez, não pode ser destruído. As muitas águas não podem apagá-lo, nem os rios afogá-lo. Com certeza, esse texto não está falando meramente de um sentimento de paixão, que pode simplesmente passar. Este texto trata do amor conforme é descrito em 1 Coríntios 13: “... o amor jamais acaba... tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.” (vs. 8 e 9).

Mas há ainda uma característica destacada por esses versículos. Uma que aponta para o fato desse amor ser um milagre. Vejamos:

 

3.       O Milagre do verdadeiro amor na dádiva do Amor Imerecido! – v.7b

“Ainda que alguém oferecesse todos os bens da sua casa para comprar o amor, receberia em troca apenas desprezo.”

A ênfase desse versículo é que o amor não pode ser comprado. Resgatando a teoria de Heinrich Ewald, imagine que a Sulamita estivesse noiva de um jovem de sua terra, e o rei Salomão, por questões políticas, tentara levá-la para o seu arem, isso oferecendo um valor aos seus pais. Parece que esse versículo fica mais evidente agora: ninguém pode comprar o amor! O v.12, parece concordar com essa ideia, pois lemos nele o seguinte: “A minha vinha, que me pertence dessa cuido eu! Você, Salomão, terá as suas mil moedas e os que guardam o fruto dela, as suas duzentas.” (NAA)

De fato, o verdadeiro amor não pode ser comprado! Isso aponta para a realidade que o amor verdadeiro é uma dádiva. E é assim que a Bíblia nos ensina. Lemos em Romanos 5.8: “Mas Deus prova o seu próprio amor para conosco pelo fato de Cristo ter morrido por nós quando ainda éramos pecadores”. De igual forma, lemos em 1 João 4.19: “Nós amamos porque ele nos amou primeiro.” A nossa felicidade, realização e satisfação de todos os nossos anseios está no amor de Deus por nós.
“Deus não pode nos dar felicidade e paz a não ser em Si mesmo, porque isso é impossível. Isso não existe.” (C. S. Lewis)

O que é belo, é que a Escritura nos ensina que Deus é amor! Não é o que entendemos por amor que define Deus, mas é o caráter de Deus, e suas obras, que definem o que é amor. Sobre esse fato maravilhoso, que o amor verdadeiro emana do nosso Deus, o Timothy Keller fala sobre o relacionamento da trindade:

“O Pai, o Filho e o Espírito estão centrados uns nos outros, adorando e servindo uns aos outros. E por eles glorificarem uns aos outros em amor, Deus é profunda e infinitamente feliz. O Pai, o Filho e o Espírito derramam amor, júbilo e adoração pelos outros, cada qual servindo o outro. Eles procuram infinitamente a glória uns dos outros, e assim Deus é infinitamente feliz... Se este mundo foi criado por um Deus triúno, relacionamentos de amor são a essência da vida. Se por toda eternidade, sem que tenha havido início ou fim, a realidade suprema é uma comunhão de pessoas que conhecem e amam umas às outras, então a realidade suprema tem a ver com relacionamentos de amor.” (Tim Keller)

E é o amor de Deus que nos possibilita amor de forma genuína, isto é, de forma sacrificial. Como nos é ensinado em Efésios 5 e 1 João 3:

·       “[...] vivam em amor, como também Cristo nos amou e se entregou por nós, como oferta e sacrifício de aroma agradável a Deus... Maridos, que cada um de vocês ame a sua esposa, como também Cristo amou a igreja e se entregou por ela [...]” (Efésios 5.2, 25)

·       Nisto conhecemos o que é o amor: Jesus Cristo deu a sua vida por nós, e devemos dar a nossa vida por nossos irmãos.” (1 João 3.16)

Praticando:

Entendendo que o amor bíblico é uma dádiva de Deus (um milagre para pecadores como nós). E que o amor verdadeiro é sacrificial, fiel, intenso e indestrutível:

Ø  Ame seu cônjuge até o fim!

Ø  Seja radicalmente fiel à aliança do casamento!

Ø  Cultive o amor de forma romântica, motivado pelo compromisso de amar.

Ø  Aprenda a amar intensamente, até a morte!

Ø  Busque ao Senhor para poder amar como Ele amou! Compreenda que só o amor de Deus pode saciar os anseios mais profundos do nosso coração


Pr. Jhones Fernando 
Sola Christus 



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