O Cristão e o carnaval

Para compreender a razão
que o cristão não deve participar do carnaval, precisamos entender melhor a
origem desta festa. Sua origem remonta as antigas festas “sartunais”,
que eram realizadas em dezembro em culto a saturno, deus romano da agricultura;
e as “lepercálias”, realizadas em fevereiro, como festivais de
purificação. Nestas festas havia bloquinhos de dança, carros alegóricos levando
homens e mulheres nuas, e eram cheias de imoralidades sexuais e bebedices. Os
carros alegóricos, eram chamados de “carrus navalis”, podendo ser tal
designação a origem remota do termo “carnaval”. Mais tarde, porém, a igreja católica
romana assumiu a tradição pagã chamando-a de “carne vale” (adeus à
carne), pois se tratava de uma festividade cheia de excessos, folia e
extravagância, antes do início da quaresma (os quarenta dias que antecedem a páscoa
onde os fiéis católicos realizavam jejuns em preparação para a abstenção de
carne na semana de páscoa). O carnaval no Brasil, por sua vez, iniciou no
período colonial, e se tornou uma das festas mais conhecidas do mundo, que
apesar de ser totalmente secularizada hoje, chegou por aqui como uma
festividade religiosa ligada à igreja católica romana, que continha elementos
do paganismo e das religiões afrodescendentes.[2] [3]
Apesar de haver uma
conexão entre o catolicismo e a popularização do carnaval após a idade média,
tal festa não tem nada a ver com o verdadeiro cristianismo. A idolatria e as
imoralidades que são promovidas por esta festividade mundana e sincrética, são
altamente combatidas pelos apóstolos de Jesus Cristo. Paulo, um dos autores
Bíblicos que mais pregou sobre a graça de Deus, sobre o perdão gratuíto que não
pode ser merecido, nem comprado, e sobre a liberdade do Espírito que temos em
Cristo, enfaticamente condenou as obras da carne, dizendo “... as obras da
carne são conhecidas e são: prostituição, impureza, lascívia, idolatria,
feitiçarias, inimizades, porfias, ciúmes, iras, discórdias, dissensões,
facções, invejas, bebedices, glutonarias e coisas semelhantes a estas, a
respeito das quais eu vos declaro, como já, outrora, vos preveni, que não
herdarão o reino de Deus os que tais coisas praticam” (Gl 5.19-21).
A palavra grega “kōmos”
traduzida por “glutonaria” no texto acima, é importante para o entendimento que
queremos chegar. Esta palavra aparece também em Romanos 13.13 e 1 Pedro 4.3, e
se refere às festas romanas da compulsão, conhecidas pelo excesso de comidas ou
bebidas e libertinagem moral.[4] Em algumas versões o termo
grego é traduzido por “orgias” em vez de “glutonaria”, pois segundo Strong tal
se refere à: “procissão noturna e luxuriosa de pessoas bêbadas e galhofeiras
que após um jantar desfilavam em folia pelas ruas com tochas e músicas em honra
a Baco ou algum outro deus.” [5]
Sendo, portanto, esta a razão de Paulo enfaticamente dizer aos Gálatas: “vivam
pelo Espírito, e de modo nenhum satisfarão os desejos da carne” (Gl 5.16).
Semelhantemente, em Efésios 5.3 Paulo assume
uma postura radical proibindo até mesmo o se fazer menção das “imoralidades
sexuais, impurezas, cobiças, pois tais não são próprias aos santos” (que
foram feitos santos ao crerem em Jesus). E, em 1 Coríntios 10.21, Paulo
repreende a igreja quanto a participação de festas cuja comida é oferecida a
ídolos, afirmando que os cristãos “não podem beber do cálice do Senhor e do
cálice dos demônios; não podem participar da mesa do Senhor e da mesa dos
demônios”.
Pedro também repreende a
igreja quanto a estes pecados, mostrando que tais faziam parte da antiga vida
dos cristãos, antes da conversão, conforme ele mesmo diz: “no passado vocês
já gastaram tempo suficiente fazendo o que agrada aos pagãos. Naquele tempo
vocês viviam em libertinagem, na sensualidade, nas bebedeiras, orgias e farras,
e na idolatria repugnante” (1 Pe 4.3). Para Pedro esta vida mundana é
incoerente com o sacrifício de Cristo e sua graça, pois segundo ele, “Cristo
sofreu corporalmente... para que, no tempo que nos resta nesta vida, não
vivamos mais para satisfazer os maus desejos humanos, mas para fazer a vontade
de Deus” (1 Pe 4.1-2). Igualmente, João, o discípulo amado, nos adverte em
1 João 2.15: “Não amem o mundo nem o que nele há. Se alguém amar o mundo, o
amor do Pai não está nele”.
Por fim, quero relembrar
a todos vocês cristãos, das Palavras de Paulo em Romanos 12.2: “... não vos
conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente,
para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus.” Não
vos “conformar” com este século, ou não vos “amoldar” a este mundo (conforme a
tradução da NVI), tem sido em todos os tempos um dos maiores desafios da
igreja. A igreja brasileira hoje tem se tornado secular e mundana, pela não
compreensão clara do evangelho da graça e do sofrimento de Jesus por causa do
pecado. Precisamos de conversão verdadeira que é demostrada pelo fruto da
santidade, e assim, nos libertar deste evangelho da permissividade, tosco e
idólatra, que aprova e promove a participação de “cristãos” em festas como o
carnaval.
[1] DANTAS, Olívia. Bloco de carnaval cristão quer quebrar preconceitos em sua estreia. Disponível em: https://noticias.uol.com.br/carnaval/2019/noticias/redacao/2019/01/12/bloco-de-carnaval-cristao-quer-quebrar-preconceitos-em-sua-estreia.htm. Acesso em 22 de fevereiro de 2020.
[2] SILVA, Daniel Neves. "História do Carnaval"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/carnaval/historia-do-carnaval.htm. Acesso em 22 de fevereiro de 2020.
[3] Revista Super Interessante: Qual é a origem do Carnaval? Por Cíntia Cristina da Silva e Alexandre Versignassi. Publicado no dia 18 de Abril de 2011.
[4] Léxico de sentido Bíblico. Software Logos 8.
[5] Strong, J. (2002). Léxico Hebraico, Aramaico e Grego de Strong. Sociedade Bíblica do Brasil.